quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tombos, quedas e outras avarias...




Sou especialista em hematomas, esfolamentos e assemelhados. Vivo dando topadas em móveis, queimando mãos e braços em panelas quentes, escorregando em tapetes traiçoeiros.

Quando viajo, não é diferente. Coleciono, entre as lembranças dos lugares por onde passo, alguns ai, ai, ai, ui, ui, ui e pequenas cicatrizes.

Já fiquei um ano inteiro sem a unha do dedão do pé porque uma mala de mais de trinta quilos, de um casal de alemães, despencou do bagageiro do ônibus, bem em cima do meu pé. Quase desmaiei. E tive de receber atendimento médico de urgência porque mal conseguia respirar de tanta dor. Por sorte, isso aconteceu já no aeroporto de Milão,  na volta de minha viagem de estudos a Firenze. E me rendeu meses usando sandália, porque não conseguia colocar um sapato fechado no pé.

Antes disso, fiquei internada num hospital público em Atenas, o pior do mundo, em minha abalizada opinião de paciente. Ninguém falava inglês, minhas amigas não conseguiam explicar que eu era alérgica a vários medicamentos e os enfermeiros sumiram comigo sem deixar que elas me acompanhassem, colocando-me numa enfermaria fétida e cheia de velhinhas nas últimas, que recitavam ininterruptamente em grego mantras de consolação. Na primeira oportunidade, fugi do hospital, com o auxílio de minhas amigas que, clandestinamente,  conseguiram descobrir onde eu estava, e montaram um esquema de fuga, com todos os guardas do hospital em nosso encalço. Uma verdadeira aventura! 
Passei o resto das férias com uma infecção brava, fraca e desidratada, mas sobrevivi.

Também já rolei das escadas no apartamentinho em que morava em Firenze. Foi horrível. Eu não conseguia me segurar e fui caindo, caindo, caindo, até chegar no andar de baixo (o quarto era no sótão!). Fiquei um tempão ali imóvel, sem conseguir me mexer e, depois, mais de quarenta dias com o corpo todo enfeitado de hematomas.

Não sei porque, mas para eu cair não precisa de muito.

Em 1990,  primeira vez em que saí do país, fizemos, eu e toda a família,  uma viagem à Argentina. Ao chegar à Bariloche, estava andando de mãos dadas com minha filha do meio quando escorreguei no gelo, feito uma pata, e bati fortemente com a cabeça no chão. Desmaiei na hora. Doeu um pouco naqule dia e no outro, mas continuei aproveitando a viagem. Depois de muitos anos, tive de fazer um exame minucioso para diagnóstico de labirintite e a médica comentou que tenho uma cicatriz enorme no crânio de algum tombo feio que levei, mas que por sorte não abalou a parte neurológica. E é exatamente no lugar daquela batida na cabeça, em  Bariloche.

Também no ano ano passado, quando vim a Londres visitar minha filha mais nova, levei um baita tombo, logo no primeiro dia em que saí sozinha para dar um passeio.
Imediatamente fui socorrida por quatro ingleses e meio:  um casal de namorados, um senhor que lia seu jornal num café em frente e uma moça que empurrava um carrinho de bebê. Todos foram muito solícitos e o casal, inclusive, me levou à farmácia mais próxima para cuidar dos muitos arranhões, que sangravam. O mais engraçado é que eu estava, naquele momento, justamente tirando conclusões impróprias sobre a ausência absoluta de ingleses pelas ruas de Londres, pois só tinha me deparado até então com hordas e hordas de estrangeiros.

Agora, novamente em Londres, o tombo da vez foi ontem.
Estava eu, toda feliz, voltando para a casa de minha filha, depois de um lindo passeio no Hyde Park e no Kensington Park,  quando, já na rua onde ela mora, resolvi fazer umas comprinhas de supermercado.

É claro que me empolguei. Acho uma delícia poder comprar cerejas e morangos carnudos e perfumados, iogurtes maravilhosos, queijos fantásticos  a preços mais que convidativos para nós, brasileiros.  Além disso, comprei detergente, leite, pão, coisas que faltavam em casa.

Saí triunfante com minhas duas sacolinhas retornáveis - que já ficam de prontidão em minha bolsa, pois aqui, e na maioria dos países da Europa,  para se usar  saquinhos plásticos dos supermercados, tem-se de pagar por eles. 

Pois bem, quando faltavam uns cinquenta metros para chegar na casa de minha filha, pisei em falso e lá fui eu, meu casaco, minha bolsa e as duas sacolas solenemente beijar o chão.  Um estrago federal. 

Estourei o joelho, o detergente estourou em cima dos pães, os danones estouraram em cima dos queijos e das frutas e estas ficaram completamente esmagadas. E desta vez, nem inglês, nem estrangeiro para me ajudar a levantar.

Tive de me recompor devagarinho, recolher as compras avariadas e  ainda fingir que não tinha acontecido nada, pois tudo isso aconteceu bem em frente a um dos pubs mais movimentados do bairro.

Meu corpo ainda está bastante dolorido e meu ombro e joelho esquerdos estão uma lástima. Mesmo assim, já fiz as pazes com as ruas de Londres e hoje lá fui eu para mais dois passeios, que valeram muito a pena. 

Mas essa é uma história que fica para depois...

4 comentários:

  1. Zi,
    é muito ruim levar tombos, não é?
    aquela sensação na hora de não saber o que vai acontecer, é muito estranho, detesto isso.
    fiquei imaginando a cena que vc descreve, se fosse uma comédia seria hilário, mas sei que foi um baita susto, e ninguém pra te dar a mão?! puxa!
    bem, de qualquer forma rendeu mais uma história de viagem para seu caderninho... ooopss... para seu bloguinho!
    ande com cuidado, ok? conte outras histórias, não queremos mais nenhuma desse tipo, tá bom?!
    beijoca
    Ju

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  2. Estou adorando te ver por aqui, Ju. Vou andar com mais cuidado, sim. Afinal, quero aproveitar muito a viagem para ter o que contar... Beijossss

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  3. Depois de um texto interessante e bom como este, só me resta evocar a sabedoria popular: "Se a vida te dá um limão, faça um limonada"
    Kico

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  4. E eu adoro uma limonada, Kico! Muito bom te ver por aqui, viu? Saudade do meu mestre...

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