GRANADA
Não se pode escrever sobre uma explosão no peito
Não se pode
escrever sob uma explosão no peito.
Granada toda
sangra em mim
E me devolve o que me faltava
Há uma emoção
doída e cheia de alegria
Um sentimento enfeitado de uma profundidade desconhecida.
Há Alhambra
Séculos de minha
vida antes de mim
Pedra e desenhos
artesanais que revelam caminhos sinuosos
Curvas delicadas.
Há ruelas abruptas e descaminhos
Há mistérios e surpresas
Há o choro fácil
Que rola de meus
olhos tomados de emoção
Há o coração que
se faz sentir a todo momento
Bem perto da
garganta.
A força do canto
O Flamenco
A dor que se
extrai das vísceras
E se transmuta em
som
É voz ou lamento?
A dança
Imponente e
graciosa
A dignidade
espanhola
Aquilo que vim
resgatar
O olhar firme e
altaneiro
Um quê de graça e
sedução
Movimentos fortes
que desafiam o ar
A presença
inteira do corpo
Um esforço, quase
natural.
La Huerta de San
Vicente
O encontro com Lorca
Aqui, apenas
Federico.
Desfruto de sua
intimidade
Seus objetos,
seus móveis, seu piano
Invado seu quarto.
Um
transbordamento
Tudo está como
quando partiu
Para sempre.
Tenho ganas de me sentar à sua mesa de trabalho
De me deitar em
sua cama
De pisar descalça
no chão
Onde seus pés
andaram.
Vejo-o em sombra junto
de mim
Sentado na
poltrona
Olhando-me com
emoção.
A emoção é minha
Mas é ele que tem
alma de poeta
E os poetas
escrevem e olham
Com os olhos da
emoção.
Nova explosão no
meu peito
Sob o olhar
silencioso e invisível de Lorca.
Banho-me nessa
emoção
E, por um
momento, sou poeta.
Soy Lorca!
Huerta de San Vicente, 02 de agosto de 2007
Granada - Espanha
(la tierra de mi abuelo)