segunda-feira, 9 de junho de 2025


 GRANADA


Não se pode escrever sobre uma explosão no peito

Não se pode escrever sob uma explosão no peito.

Granada toda sangra em mim

E me devolve o que me faltava

Há uma emoção doída e cheia de alegria

Um sentimento enfeitado de uma profundidade desconhecida.




Há Alhambra

Séculos de minha vida antes de mim

Pedra e desenhos artesanais que revelam caminhos sinuosos

Curvas delicadas.




Há ruelas abruptas e descaminhos

 Há mistérios e surpresas

Há o choro fácil

Que rola de meus olhos tomados de emoção

Há o coração que se faz sentir a todo momento

Bem perto da garganta.




A força do canto

 O Flamenco

A dor que se extrai das vísceras

E se transmuta em som

É voz ou lamento?

A dança

Imponente e graciosa

A dignidade espanhola

Aquilo que vim resgatar

O olhar firme e altaneiro

Um quê de graça e sedução

Movimentos fortes que desafiam o ar

A presença inteira do corpo

Um esforço, quase natural.




La Huerta de San Vicente

 O encontro com Lorca

Aqui, apenas Federico.

Desfruto de sua intimidade

Seus objetos, seus móveis, seu piano

Invado seu quarto.

Um transbordamento

Tudo está como quando partiu

Para sempre.




Tenho ganas de me sentar à sua mesa de trabalho

De me deitar em sua cama

De pisar descalça no chão

Onde seus pés andaram.

Vejo-o em sombra junto de mim

Sentado na poltrona

Olhando-me com emoção.

A emoção é minha

Mas é ele que tem alma de poeta

E os poetas escrevem e olham

Com os olhos da emoção.

Nova explosão no meu peito

Sob o olhar silencioso e invisível de Lorca.

Banho-me nessa emoção

E, por um momento, sou poeta.

Soy Lorca!

 

                                            Huerta de San Vicente, 02 de agosto de 2007

                                                  Granada - Espanha

                                                  (la tierra de mi abuelo)